terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Tio Boonmee - que pode recordar suas vidas passadas

Esta película foi motivo de bastante burburinho e frenêsi, desde o Festival de Berlim, passando por Cannes até aportar por aqui na Mostra Internacional de Cinema (chegou com os ingressos esgotados, diga-se de passagem!).

No princípio, não consegui convencer muita gente para me acompanhar e apreciar essa obra que é algo como uma iguaria no cinema ocidental... ninguém podia compreender a minha "necessidade" de assistir a um filme que tinha de capa, uma espécie de assombração peluda com olhos vermelhos... com um título igualmente suspeito.

Caiu no circuito, bilhares de críticos adulando (ou apedrejando) o filme fizeram as mentes e os corações se convencerem a ver a película... e, todos disseram: "ah, não era esse filme que você queria ver?"

Pois é, depois de algumas tentativas frustradas para assisti-lo durante a Mostra Internacional, pude conferir no circuito... depois de tanta expectativa, confesso que fiquei ambivalente quanto ao nível de "gostamento" do filme...

De fato é algo poético, lúdico, metafórico e político*... transporta-nos a um mundo mágico e místico... O contraste entre o misticismo, as tradições, o campo, o naturalismo, a cidade, a tecnologia, o consumo, são suscitados constantemente... A crítica ao processo de aculturação e perda da identidade cultural são evidentes. A sensibilidade tocante de Apichatpong para captar pequenos detalhes, numa filmagem escura (que dá um toque ainda mais místico), revelam uma natureza silenciosa, sábia e severa que pulsa através de suas cachoeiras, mugidos animais, ventos, sombras e luzes...

O mundo fantástico dos mitos e tradições são intercalados com críticas às manobras políticas, às guerras e aos conflitos civis que a Tailândia têm enfrentado, mas nada disso soa opressor, pretensioso ou mesmo arrogante, todos os conteúdos surgem espontaneamente na fala simples (mas não menos perspicazes) dos personagens que compõem essa trama que varia do naturalismo ao surrealismo fantástico.

Ainda não sei dizer se Cannes o superestimou (na minha visão de leiga). .mas estou quase convencida que não, rsrs.

* neste quesito diria que as produções orientais, tal como "O hospedeiro" de Bong Joon-ho surpreenderam-me pela força das figuras imagéticas e metafóricas - e Weesarethakul (muito mais fácil escrever que falar) não ficou atrás.


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