sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Réquiem para um sonho (e o Pharmakon)

O título deste blog remete automaticamente a um distúrbio mental... ou para sermos mais assertivos, a um "transtorno do humor"... nesses tempos da primazia da ciência e suas nomenclaturas cada vez mais precisas e específicas, quase tudo pode ser taxado, explicado e esmiuçado, inclusive as flutuações, variações de humor, sentimentos e sensações comuns da vida ordinária ...

As drogas também não se deixam estar... a cada dia novas moléculas são testadas e lançadas no mercado como uma nova panacéia... (ainda bem que temos um contingente de miseráveis nos países subdesenvolvidos para fazerem as vezes de cobaias humanas - claro que tenho que mencionar a fabulosa película de Meirelles - "O jardineiro fiel").

Lembram-se do sucesso estrondoso do "Prozac"? era a tríade para a solução da tristeza existencial humana: cuido do "emocional" com "Prozac", da "beleza" com "Xenical" e do "amor" com "Viagra"... Atualmente, sabe-se que o "Prozac" (assim como o Xenical e o Viagra) tem suas limitações, mas novas drogas foram lançadas, mais potentes, mais específicas... algumas bloqueiam os receptores do tipo 5HT1 outras o 5HT2, a depender do perfil metabólico do paciente e do tipo de transtorno... 

As novas projeções da farmacogenômica prometem melhorias no perfil de efeitos colaterais e efetividade na resposta terapêutica... De fato, a humanidade tem dado passos largos na inclusão social: quem diria que o fulano jogado às traças no manicômio por conta de uma "psicose maníaco depressiva" - PMD dos anos 70 poderia ser um publicitário arrojado do novo milênio ?! Ele não é mais "psicótico maníaco-depressivo", ganhou nova roupagem: "transtorno afetivo bipolar" - TAB... mil  novas siglas, rótulos e nomenclaturas  - não-estigmatizantes, por favor! E que sirvam ao que se prestam... que o livre da responsabilidade por atos controversos cometidos durante "os surtos"... afinal de contas, deve ser um distúrbio da condução neuronal ou da recaptação de serotonina?!

A ciência trouxe a solução... nada que um estabilizador de humor associado a um anti-depressivo não proporcione... caso ainda não seja suficiente, não há motivos para desesperança, novas drogas, com novos protocolos clínicos são lançados quase que diariamente.

Por outro lado, a oferta (e o consumo) de panacéias legais crescem lado a lado com as panacéias do mundo paralelo... drogas lícitas e ilícitas, tanto faz a procedência (é claro, mantidas as devidas proporções, sabemos que existem implicações bem diversas...), a questão é que o homem moderno está quase no encontro de seu "soma" (ainda que não condensado num único comprimido como idealizado por nosso visionário Aldous Huxley, em "Admirável mundo novo" )... ou pelo menos, parece estar numa busca frenética para tal... o consumo de drogas lícitas e ilícitas nunca foi tão difundido ou democrático...

Tanto faz a procedência, a questão é que o conceito lançado por Platão há milênios atrás, nos remete a algo absolutamente atual... o "pharmakon" é o veneno, é a cura, é o engodo... Finalizo com a obra de Darren Aronofsky que ilustrou bem, na sua produção veloz e bem recortada, o pharmakon moderno:

Nenhum comentário:

Postar um comentário