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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Bendito Machine - Curtas

Depois de uma temporada de recesso depressivo (= pequenos tormentos corriqueiros do cotidiano comum), eis um curta (animação) que me surpreendeu!!!

Esses curtas formam uma série*** sobre o nosso mundo dos tempos hipermodernos (tá, não vamos destrinchar Charles Lipovetsky por aqui, dado o pouco tempo para a postagem, fica para um outro momento) e tantos outros temas atuais (capital, consumo, religião, toxicomanias, alienação, etc)... 

Os gráficos remotam tempos antigos, conduzidos com bom gosto e nível de detalhamento metafórico incomum... não foram precisas parafernálias ou efeitos especiais para nos levarmos a uma outra dimensão. Espero que gostem!

Colocarei o "link" do segundo episódio (Bendito Machine - Episode 2 - Is the spark of life) que trata do tema recorrente deste blog - inclusive, há uma relação com o "Tio Boonmee que pode lembrar das vidas passadas"! Depois digam se concordam ou não!).



*** com episódios produzidos periodicamente e que já foram premiados em diversas competições - maiores informações estão disponíveis no Bendito Machine

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Réquiem para um sonho (e o Pharmakon)

O título deste blog remete automaticamente a um distúrbio mental... ou para sermos mais assertivos, a um "transtorno do humor"... nesses tempos da primazia da ciência e suas nomenclaturas cada vez mais precisas e específicas, quase tudo pode ser taxado, explicado e esmiuçado, inclusive as flutuações, variações de humor, sentimentos e sensações comuns da vida ordinária ...

As drogas também não se deixam estar... a cada dia novas moléculas são testadas e lançadas no mercado como uma nova panacéia... (ainda bem que temos um contingente de miseráveis nos países subdesenvolvidos para fazerem as vezes de cobaias humanas - claro que tenho que mencionar a fabulosa película de Meirelles - "O jardineiro fiel").

Lembram-se do sucesso estrondoso do "Prozac"? era a tríade para a solução da tristeza existencial humana: cuido do "emocional" com "Prozac", da "beleza" com "Xenical" e do "amor" com "Viagra"... Atualmente, sabe-se que o "Prozac" (assim como o Xenical e o Viagra) tem suas limitações, mas novas drogas foram lançadas, mais potentes, mais específicas... algumas bloqueiam os receptores do tipo 5HT1 outras o 5HT2, a depender do perfil metabólico do paciente e do tipo de transtorno... 

As novas projeções da farmacogenômica prometem melhorias no perfil de efeitos colaterais e efetividade na resposta terapêutica... De fato, a humanidade tem dado passos largos na inclusão social: quem diria que o fulano jogado às traças no manicômio por conta de uma "psicose maníaco depressiva" - PMD dos anos 70 poderia ser um publicitário arrojado do novo milênio ?! Ele não é mais "psicótico maníaco-depressivo", ganhou nova roupagem: "transtorno afetivo bipolar" - TAB... mil  novas siglas, rótulos e nomenclaturas  - não-estigmatizantes, por favor! E que sirvam ao que se prestam... que o livre da responsabilidade por atos controversos cometidos durante "os surtos"... afinal de contas, deve ser um distúrbio da condução neuronal ou da recaptação de serotonina?!

A ciência trouxe a solução... nada que um estabilizador de humor associado a um anti-depressivo não proporcione... caso ainda não seja suficiente, não há motivos para desesperança, novas drogas, com novos protocolos clínicos são lançados quase que diariamente.

Por outro lado, a oferta (e o consumo) de panacéias legais crescem lado a lado com as panacéias do mundo paralelo... drogas lícitas e ilícitas, tanto faz a procedência (é claro, mantidas as devidas proporções, sabemos que existem implicações bem diversas...), a questão é que o homem moderno está quase no encontro de seu "soma" (ainda que não condensado num único comprimido como idealizado por nosso visionário Aldous Huxley, em "Admirável mundo novo" )... ou pelo menos, parece estar numa busca frenética para tal... o consumo de drogas lícitas e ilícitas nunca foi tão difundido ou democrático...

Tanto faz a procedência, a questão é que o conceito lançado por Platão há milênios atrás, nos remete a algo absolutamente atual... o "pharmakon" é o veneno, é a cura, é o engodo... Finalizo com a obra de Darren Aronofsky que ilustrou bem, na sua produção veloz e bem recortada, o pharmakon moderno:

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Nação Rivotril


Desde 2009 as discussões sobre a "ascensão" do consumo de benzodiazepínicos, especialmente o "rivotril" (que rende alguns bons trocados à Roche) que ocupa o 2o. lugar do "ranking" nacional, tem tomado espaço na mídia... conferindo ao Brasil o apelido carinhoso de "Nação Rivotril" - (o consumo vai das metrópoles às cidades menores).

Cá entre nós que tal estatística merece correção, pois ela é baseada, em sua ampla escala em dados oficiais, desconsiderando-se o uso no mercado "negro" (por falar em "negro", não me venham com "papinho politicamente correto"), no mundo paralelo do "uso recreativo"...

O dito cujo "benzo" virou panacéia, tanto no mercado oficial quanto no paralelo... no "oficial" serve para atenuar as angústias das mais variadas amplitudes, causas e (des)diagnósticos... é um "baratinho democrático", cabe no bolso de (quase) todos (se não cabe, o SUS providencia) e aplaca igualmente os males dos ricos, pobres, descamisados e insones de plantão.: 

Vai da angústia da mãe que perdeu o filho no tiroteio do traficante da esquina, passando ao executivo que se "estressou" com a secretária que quer que ele assuma a relação para a esposa - que pode apreciá-lo com um  "on the Rocks" de "Green Label"; visita o(a) professor(a) mal-pago(a) da rede pública de ensino que não encontra solução para o impasse na educação, mas que precisa continuar a trabalhar e encara a sala de aula de "frente", graças ao "centramento" conferido pelo "benzo", chegando até a modelo que usa o "benzo" para atenuar a "nóia" das anfetaminas para emagrecer e para aguentar o "tranco" das passarelas e seu ninho de cobras do mundo imagético.

No "paralelo" resolve "bode" de coca, de crack, do ecstasy, do GHB, deixa a "trip" mais "light" e ainda por cima "disfarça" a "nóia"... e daí por diante (sei lá quais são as gírias do momento, tô meio véia)... Embora, nem se precise tanto recorrer ao "paralelo", qualquer um, com um mínimo de articulação verbal, é capaz de "engambelar" um clínico, um psiquiatra, um profissional da saúde e sair com o receituário azul, oficial e totalmente legal... A prescrição é feita no "olhômetro", sem grandes crises... com tranquilidade (des)proporcional ao transtorno para se livrar da dependência química de tal "magia em gotas".

De qualquer forma, quem nunca sonhou com tranquilidade em gotas ou comprimidos? Sossego, paz de espírito e uma calma esperança como se fossem "as gotas de sabedoria"? Um apaziguamento para a existência ordinária, mas cruel (do ponto de vista do portador, por mais babaca que possa parecer a outro espectador)?

Quem não conhece um(a) tio(a), um(a) vizinho(a) que se entope de "benzo"? A vida foi pro ralo no mês passado, mas a pessoa continua lá, tranquila, sob controle... Nada melhor que uma nação calma, tranquila e centrada (ainda que o centro esteja em outra dimensão!!!)?

A vida de quem toma pode ir pro buraco, de quem está em volta também, mas a curto prazo, está tudo no lugar (tá, talvez eu esteja sendo "ciclotímica" e "dramática", mas, convenhamos...)... "Nação rivotril" é um nome "carinhoso" para um sintoma igualmente "fofo"... Afinal de contas, temos que fazer juz à nossa famosa índole pacífica, hospitaleira e apaziguadora... Cada um elege aquilo que melhor lhe retrata... (inclusive com relação a sua toxicomania).