sábado, 29 de janeiro de 2011

"Mens sana in corpore sano"



Para completar a semana, fica uma dica gastronômica natural: o restaurante ovolactovegetariano Nutrisom. A matriz fica localizada no Centro da Cidade (São Paulo), ao lado do famoso Bar "Estadão" (aliás, ele também merece um tópico!).

Na verdade, é melhor esclarecer que o dito cujo restaurante se esconde em meio ao caos poluído da região central: a entradinha discreta de um prédio comercial, leva-nos, através de uma escadaria, a um salão com uma ambientação agradável (embora um pouco apertado para a demanda crescente de "fregueses").

Diversas mesinhas circundam o "buffet" caprichado e resposto constantemente com diversos pratos criativos, naturais e "frescos"; combinações de diversas cozinhas integram doce, salgado, frutas e grãos em massas, tortas, saladas, e condensam uma variedade interessante de sabores... 

Essa panqueca de palmito é muito mais gostosa que vistosa... e cá entre nós, ela é pecaminosamente deliciosa!!! (vale a pena conferir!!!)
Oferece ainda uma seleção interessante de sobremesas (geralmente dois sabores de sorvete, associado a um tipo de bolo, torta e salada de frutas)... além de sucos e/ou chás à vontade, por um preço fixo (R$19,90)... claro que isto é para a matriz... 

Pois a filial diferenciou-se do conceito original e ganhou bastante sofisticação, a começar pela localidade, na Vila Olímpia... e incorporou carnes brancas no cardápio - não posso falar de minhas impressões, pois ainda não tive oportunidade de conhecer (mas com certeza está na listinha).

As coordenadas podem ser obtidas diretamente no "site" do Nutrisom .

PS: muitos dos restaurantes ovolactovegetarianos são conduzidos e concebidos dentro dos preceitos adventistas e o Nutrisom não foge à regra - TRADUZINDO: não abrem de sábado!!! Fique atento!!!

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Adultescência, "strobos" e a "meia-idade"...

Outro dia, fui tomada por uma curiosidade... tal situação aconteceu numa pista de dança numa "balada" dedicada aos melhores "flashbacks" da temporada ... supostamente atrairia um público de certa idade [(com aquele tipo de cumplicidade tribal (não sei ao certo se os adolescentes do milênio tem este espaço) e que era quase "secreta" perante aos olhos dos pais (que aparentemente não faziam idéia e não entendiam  nada da complexidade e das questões desafiadoras que se apresentavam ali)...)]

O "clima" de "azaração", de "paquera adolescente" visando um beijo na boca, uma flertada, um amasso, uma ficada... trazia questões sobre o lugar que isto tudo ocupava por ali... e por aqui.

O clima, a necessidade de "caçar", a necessidade de ver e ser visto, de estar com tudo em ordem e em cima (diga-se de passagem, peitos, bundas, panturrilhas e bíceps)... tudo muito próprio de nossos tempos... mas alguns pontos se sobressaíram do cenário...

Chamou a atenção a chegada de um grupo de pessoas com mais idade, bem  além da faixa etária que supostamente celebraria aqueles "flashbacks"... nada demais, pelo contrário é interessante que as pessoas estejam abertas para o novo...

O que se "revelou" ali e intrigou eram as formas de agir e de se apresentar...  era realmente difícil discernir quem era quem ali  (pais e filhos, mães e filhas)... (não que fosse necessário)... vestidos de formas muito parecidas (mulheres de vestidos sumários, exibindo marcas de sessões de bronzeamento artificial e horas de academia e homens com mesma padronagem nas camisas e jeans) e alguns comportavam-se de forma similar "azarando"... Algo realmente curioso.

Depois, episódio semelhante num desses "shoppings centers"... mães (na meia-idade) e filhas (adolescentes) com roupas similares (da mesma marca, mesmo modelo, mesma estampa, eventualmente de tamanhos diferentes), discutindo temas diversos... (tá, tá, não fiquei prestando atenção nas conversas... masssss... tudo pela "experiência antropológica").

Não é algo novo... psicanalistas, antropólogos e sociólogos já discutiram o fenômeno da "adultescência" e o "empurramento" do envelhecimento... mas para não perder o hábito, resolvi ressuscitar o "morto" e falar disso... e para deixar a questão: como lidar com o inevitável? (o envelhecimento, um prelúdio à morte)

[Cheguei à conclusão que hoje em dia é muito desafiador querer ser um adolescente*... "mami e papi" também serão, se você quiser (ou não)!!!! (kkk)

*fazer rebeliões interiores e exteriores para testar a elasticidade e a força acolhedora que um limite bem dado pode fornecer -  que gosta de se isolar entre os seus pares, criando um código próprio, com linguagens e processos inerentes à aquisição da identidade a ser estabelecida mais adiante...]

Deixo aqui, um link de um texto que trata, dentre outras coisas, sobre a crise na educação (que, talvez não pareça, à primeira vista, relacionar-se com o "post" de hoje, mas láaaaa no fundo, bem lá no fundo, tem tudo a ver): Por uma "lição de amor" na adolescência: função paterna e educação.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Tio Boonmee - que pode recordar suas vidas passadas

Esta película foi motivo de bastante burburinho e frenêsi, desde o Festival de Berlim, passando por Cannes até aportar por aqui na Mostra Internacional de Cinema (chegou com os ingressos esgotados, diga-se de passagem!).

No princípio, não consegui convencer muita gente para me acompanhar e apreciar essa obra que é algo como uma iguaria no cinema ocidental... ninguém podia compreender a minha "necessidade" de assistir a um filme que tinha de capa, uma espécie de assombração peluda com olhos vermelhos... com um título igualmente suspeito.

Caiu no circuito, bilhares de críticos adulando (ou apedrejando) o filme fizeram as mentes e os corações se convencerem a ver a película... e, todos disseram: "ah, não era esse filme que você queria ver?"

Pois é, depois de algumas tentativas frustradas para assisti-lo durante a Mostra Internacional, pude conferir no circuito... depois de tanta expectativa, confesso que fiquei ambivalente quanto ao nível de "gostamento" do filme...

De fato é algo poético, lúdico, metafórico e político*... transporta-nos a um mundo mágico e místico... O contraste entre o misticismo, as tradições, o campo, o naturalismo, a cidade, a tecnologia, o consumo, são suscitados constantemente... A crítica ao processo de aculturação e perda da identidade cultural são evidentes. A sensibilidade tocante de Apichatpong para captar pequenos detalhes, numa filmagem escura (que dá um toque ainda mais místico), revelam uma natureza silenciosa, sábia e severa que pulsa através de suas cachoeiras, mugidos animais, ventos, sombras e luzes...

O mundo fantástico dos mitos e tradições são intercalados com críticas às manobras políticas, às guerras e aos conflitos civis que a Tailândia têm enfrentado, mas nada disso soa opressor, pretensioso ou mesmo arrogante, todos os conteúdos surgem espontaneamente na fala simples (mas não menos perspicazes) dos personagens que compõem essa trama que varia do naturalismo ao surrealismo fantástico.

Ainda não sei dizer se Cannes o superestimou (na minha visão de leiga). .mas estou quase convencida que não, rsrs.

* neste quesito diria que as produções orientais, tal como "O hospedeiro" de Bong Joon-ho surpreenderam-me pela força das figuras imagéticas e metafóricas - e Weesarethakul (muito mais fácil escrever que falar) não ficou atrás.


sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Réquiem para um sonho (e o Pharmakon)

O título deste blog remete automaticamente a um distúrbio mental... ou para sermos mais assertivos, a um "transtorno do humor"... nesses tempos da primazia da ciência e suas nomenclaturas cada vez mais precisas e específicas, quase tudo pode ser taxado, explicado e esmiuçado, inclusive as flutuações, variações de humor, sentimentos e sensações comuns da vida ordinária ...

As drogas também não se deixam estar... a cada dia novas moléculas são testadas e lançadas no mercado como uma nova panacéia... (ainda bem que temos um contingente de miseráveis nos países subdesenvolvidos para fazerem as vezes de cobaias humanas - claro que tenho que mencionar a fabulosa película de Meirelles - "O jardineiro fiel").

Lembram-se do sucesso estrondoso do "Prozac"? era a tríade para a solução da tristeza existencial humana: cuido do "emocional" com "Prozac", da "beleza" com "Xenical" e do "amor" com "Viagra"... Atualmente, sabe-se que o "Prozac" (assim como o Xenical e o Viagra) tem suas limitações, mas novas drogas foram lançadas, mais potentes, mais específicas... algumas bloqueiam os receptores do tipo 5HT1 outras o 5HT2, a depender do perfil metabólico do paciente e do tipo de transtorno... 

As novas projeções da farmacogenômica prometem melhorias no perfil de efeitos colaterais e efetividade na resposta terapêutica... De fato, a humanidade tem dado passos largos na inclusão social: quem diria que o fulano jogado às traças no manicômio por conta de uma "psicose maníaco depressiva" - PMD dos anos 70 poderia ser um publicitário arrojado do novo milênio ?! Ele não é mais "psicótico maníaco-depressivo", ganhou nova roupagem: "transtorno afetivo bipolar" - TAB... mil  novas siglas, rótulos e nomenclaturas  - não-estigmatizantes, por favor! E que sirvam ao que se prestam... que o livre da responsabilidade por atos controversos cometidos durante "os surtos"... afinal de contas, deve ser um distúrbio da condução neuronal ou da recaptação de serotonina?!

A ciência trouxe a solução... nada que um estabilizador de humor associado a um anti-depressivo não proporcione... caso ainda não seja suficiente, não há motivos para desesperança, novas drogas, com novos protocolos clínicos são lançados quase que diariamente.

Por outro lado, a oferta (e o consumo) de panacéias legais crescem lado a lado com as panacéias do mundo paralelo... drogas lícitas e ilícitas, tanto faz a procedência (é claro, mantidas as devidas proporções, sabemos que existem implicações bem diversas...), a questão é que o homem moderno está quase no encontro de seu "soma" (ainda que não condensado num único comprimido como idealizado por nosso visionário Aldous Huxley, em "Admirável mundo novo" )... ou pelo menos, parece estar numa busca frenética para tal... o consumo de drogas lícitas e ilícitas nunca foi tão difundido ou democrático...

Tanto faz a procedência, a questão é que o conceito lançado por Platão há milênios atrás, nos remete a algo absolutamente atual... o "pharmakon" é o veneno, é a cura, é o engodo... Finalizo com a obra de Darren Aronofsky que ilustrou bem, na sua produção veloz e bem recortada, o pharmakon moderno:

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

"O mágico" (Jacques Tati)

(ALERTA: esse textículo revela trechos do filme!!!)



Sylvain Chomet ressuscita o roteiro de Jacques Tati com elegância, dignidade e sensibilidade... não conheço o original, mas dizem que o coelho "marrudo" era uma galinha!

Trata-se, em linhas gerais, da história de um "l'illusionniste" (ilusionista) francês que busca oportunidades em outros locais além das fronteiras de sua terra natal (dada as dificuldades crescentes de manter tal "arte" como meio de vida)... nestas andanças, depara-se com uma jovem que o comove... e, apesar de seus poucos recursos, resolve presenteá-la com um par de calçados... gesto este que dará o tom do restante da trama... a jovem passa a fazer parte da jornada de nosso protagonista.

"O mágico", traz, logo em suas primeiras cenas, pinceladas melancólicas de tempos em que a arte singela dos shows de variedades surpreendiam, em que gestos bem articulados eram arte a ser apreciada... e a sua decadência e troca por prazeres mais cinestésicos-materialistas que  ofuscam qualquer coisa menos "instintiva". 

(Talvez seja alucinação dessa que vos dirige a palavra, porém, diria que é quase uma crítica dos tempos franco-anti-britânicos - frise-se que se trata de um roteiro da França dos anos 50!...  num paralelo cru: seria algo como "Invasões bárbaras" de Denys Arcand).

Poderíamos até mesmo fazer um paralelo entre a trama que transcorre de forma suave e singela (poucos diálogos, paisagem bucólica e cinestesia quase naturalista), tal qual o show de mágica, em contraponto às animações da atualidade (cheias de efeitos visuais, explosões, diálogos inflamados, cheios de movimentos e ação)... [hoje em dia temos muito som, luzes, cores e efeitos... mas estamos desprovidos da suavidade da magia de outrora...].

Há um balanço entre nos fazer sorrir (com suavidade e delicadeza - esqueça esta animação se você procura fortes emoções, fortes risos - gargalhadas e choros convulsivos não fazem parte deste "show"... aqui, tudo transcorre de forma delicada!) e sensibilizar-nos com pequenos recortes de magia, inocência e ilusão... 

E a perda gradual das mesmas... (com a precipitação dos companheiros de "profissão" diante da finitude inevitável (?) - lançando-os a situações cada vez mais degradantes) - sendo engolidas por dores existenciais igualmente densas e dolorosas... (o envelhecimento, o esquecimento, os vícios e a precipitação da morte...).

Algumas cenas são realmente marcantes e inegualáveis pela sua estética e metáfora sobre o rompimento definitivo com a inocência... (aos que assistiram... eu consideraria a cena do coelho no planalto sob a chuva como uma das expressões mais fortes de rompimento)... é atordoantemente bela e sensível...

Alguns trechos do filme sugerem uma tentativa de resgatar "algo" perdido... quase uma espécie de redenção... nas cenas finais isso parece bastante evidente... há quem diga que há traços auto-biográficos, provavelmente há... (dado o trajeto-percurso de Tati)... 

Considero esta animação uma aquarela pincelada com a alma em movimento... movimento de resgate, redenção e magia... um fechamento, uma resolução poética para os dramas humanos ordinários.

Um grande abraço melancólico... sem flores ou coelhos saindo da cartola.

(...as criaturas mais tristes que conheci, foram aquelas dedicadas a nos fazer sorrir...)

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Retirada...

Após um curto acesso "hipomaníaco", uma retirada "distímica" é necessária...

As postagens pararam por 2 dias... 2 dias dedicados à voracidade "gastro-cult", mas de uma voracidade contida, reflexiva e um tanto quanto interiorizada e contrativa (oposta à expansão eufórica da hipomania...).

Quem sabe numa releitura hipomaníaca dos eventos vividos durante a distimia, o colorido seja diferente...

Mas fica a dica:

- Bar Barôka: estrategicamente localizado na Vila Madalena, entre a Rua Mourato Coelho e Rua Ignácio Pereira do Rocha, (a sede fica na Freguesia do Ó)... tem apresentações com música ao vivo e promoção para o Balde de Bohemia... chama a atenção pela decoração, que contempla, inclusive a calçada (com grafites temáticos - animais da savana africana - elefantes, girafas, leões, entre outros)... 
Participou do "Boteco Bohemia 2009" com alguns petiscos, dentre eles, o "Bolinho de camarão cremoso" e com o "Maravilha de queijo"... por questões diplomáticas, optamos pelo primeiro... De fato, bem-feito, no ponto, sequinho e apetitoso! Assim como as fritas e as iscas de picanha! Atendimento excelente!

Por falar, em petiscos, o bolinho de Camarão do Boteco do Coutinho*** também não faz feio... com recheio mais sofisticado, numa mistura de verdes (não me lembro se era brócolis ou espinafre - que horror!!!), catupiry e camarão, dão uma "cremosidade" e suavidade ao camarão ímpares! Uma ótima pedida para apreciar com uma das cervejas do menu... Embora tenha sido frustrante apontar diversas opções, mas não tê-las para servir :( - talvez seja decorrente do recesso de fim de ano...

*** Localizado na caótica esquina da Rua Aspicuelta e da Rua Fradique Coutinho, de frente ao despretensioso "Ponto-X".

Quando a fase distímica entrar em recesso, ou quanto a hipomania manifestar-se, retorno para relatar as impressões de "O mágico" (do roteiro de Jacques Tati - com direção de Sylvain Chomet - motivo de muito burburinho na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo) e da retrospectiva pré-funeral do Cine Belas Artes, com o "Amores Expressos" (de Wong Kar-Wai)

sábado, 15 de janeiro de 2011

Baileys

"Bebidinha de mulher" (rsrs)



Um licor levinho, doce, cremoso... Em 5 versões: Original, Caramelo, Café, Chocolate com menta e (supostamente) de Avelã (nunca vi, mas dizem que existe).

Licor feito a partir da combinação de whisky e creme de leite... dizem as más línguas que o álcool é adicionado e não derivado do whisky de sua composição. E que ao contrário do que dizem os produtores, deve conter conservantes - RABaileys declara não ser necessário, pois o álcool daria estabilidade suficiente para manter as "qualidades" e preservar o leite, de qualquer forma, na versão pura é possível sentir o odor alcóolico e uma certa aspereza na garganta que não ocorre com os whiskies mais envelhecidos...

Tomado "on the rocks" é excelente, apesar do baixo teor alcóolico (cerca de 17%), vale a pena, pois a presença do gelo quebra e atenua o "bouquet" alcóolico e reduz "doçura" e deixa o licor mais delicado. E na versão Chocolate com menta, o gelo acentua o frescor da menta (embora eu prefira o Irish Cream - original).

O dito cujo licor é quase um curinga quando se trata de combinações... vai bem na sobremesa (até mesmo a Häagen-Dazs aderiu e criou o sorvete de Baileys :) ), em drinks, puro... É claro, para os apreciadores da bebida, pode soar afrontoso banhar uma bola de sorvete de creme ou de Chocolate Belga (HD) bem balanceada com Baileys... masss... gosto é gosto, não é mesmo?

Numa dessas andanças, poderia recomendar a vocês, o drink Baileys Crema do Vanilla Caffè, à base de Baileys, café, sorvete, syrup de macadâmia e chocolate, batidos com gelo, muuuuito gelo...
 
 Outra versão interessante e adaptável ao "Home made", proveniente de terras geladas é a combinação de Baileys, morango batido com "leite condensado" (não é exatamente leite condensado, mas é a idéia), syrup de "blueberry", vodka (Grey Goose) e muito gelo. 

(Mas cá entre nós, até mesmo um capuccino trivial pode ser transmutado num néctar orgásmico com uma dose de Baileys! :D )

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

The good heart

O bom coração - Produção independente de 2009, que reúne EUA, Dinamarca, Alemanha, Islândia e França de Dagur Kári... É um drama entremeado de momentos tragicômicos, outros "dramáticos" e (quase) tocantes...

Proposta interessante que faz cruzar dois modos de vida completamente díspares... Jacques (Brian Cox) é dono de um bar, supostamente instalado numa esquina decadente em Nova Iorque (tudo bem que foi filmado na Islândia... e algumas inconsistências nos dão pistas de que não estamos na terra do Tio Sam).

Homem temperado pelo tempo e amargura de amores de outrora, de mau-humor (que dá até um tom cômico) vicioso em seus hábitos, gestos e estilo de vida avesso às luzes ou ao sorriso. Por acaso do destino, compartilha quarto hospitalar com Lucas (Paul Dano de "Pequena Miss Sunshine")... 

Jovem dócil demais para a vida na selva de pedra... considera-se inapto para a vida em sociedade... um excluído que mora nas ruas... e que opta, por isto, abandonar a vida...

Jacques decide "adotar" Lucas como pupilo e tenta, assim, transmitir seus saberes sobre a aspereza da vida... o contato transforma e altera a vida de ambos... 

Diria que esta película guarda um "quê" de ingenuidade (o que o torna leve e de certa forma, quase tocante) e de imaturidade (que pode fazer alguns espectadores se sentirem afrontados em sua inteligência)... De qualquer forma, outros desfechos poderiam explorar mais a suposta complexidade dos personagens...

O refúgio do homem moderno...

Para um momento de descontração... O último refúgio do homem moderno, sob a vertente eletrônica!


Depois dessa quantidade de "posts" inaugurais vocês têm dúvidas sobre qual fase estou?!?! (hehehe)

Obviamente que a classificação psiquiátrica inclui tudo, da "normalidade" ao "patológico"... com um único episódio de suposta "hipomania", já podemos ser considerados "ciclotímicos", YÉS! 

Humanidade, seja bem-vinda ao CID F 34.0 ou DSM.IV 301.13 :D

Nação Rivotril


Desde 2009 as discussões sobre a "ascensão" do consumo de benzodiazepínicos, especialmente o "rivotril" (que rende alguns bons trocados à Roche) que ocupa o 2o. lugar do "ranking" nacional, tem tomado espaço na mídia... conferindo ao Brasil o apelido carinhoso de "Nação Rivotril" - (o consumo vai das metrópoles às cidades menores).

Cá entre nós que tal estatística merece correção, pois ela é baseada, em sua ampla escala em dados oficiais, desconsiderando-se o uso no mercado "negro" (por falar em "negro", não me venham com "papinho politicamente correto"), no mundo paralelo do "uso recreativo"...

O dito cujo "benzo" virou panacéia, tanto no mercado oficial quanto no paralelo... no "oficial" serve para atenuar as angústias das mais variadas amplitudes, causas e (des)diagnósticos... é um "baratinho democrático", cabe no bolso de (quase) todos (se não cabe, o SUS providencia) e aplaca igualmente os males dos ricos, pobres, descamisados e insones de plantão.: 

Vai da angústia da mãe que perdeu o filho no tiroteio do traficante da esquina, passando ao executivo que se "estressou" com a secretária que quer que ele assuma a relação para a esposa - que pode apreciá-lo com um  "on the Rocks" de "Green Label"; visita o(a) professor(a) mal-pago(a) da rede pública de ensino que não encontra solução para o impasse na educação, mas que precisa continuar a trabalhar e encara a sala de aula de "frente", graças ao "centramento" conferido pelo "benzo", chegando até a modelo que usa o "benzo" para atenuar a "nóia" das anfetaminas para emagrecer e para aguentar o "tranco" das passarelas e seu ninho de cobras do mundo imagético.

No "paralelo" resolve "bode" de coca, de crack, do ecstasy, do GHB, deixa a "trip" mais "light" e ainda por cima "disfarça" a "nóia"... e daí por diante (sei lá quais são as gírias do momento, tô meio véia)... Embora, nem se precise tanto recorrer ao "paralelo", qualquer um, com um mínimo de articulação verbal, é capaz de "engambelar" um clínico, um psiquiatra, um profissional da saúde e sair com o receituário azul, oficial e totalmente legal... A prescrição é feita no "olhômetro", sem grandes crises... com tranquilidade (des)proporcional ao transtorno para se livrar da dependência química de tal "magia em gotas".

De qualquer forma, quem nunca sonhou com tranquilidade em gotas ou comprimidos? Sossego, paz de espírito e uma calma esperança como se fossem "as gotas de sabedoria"? Um apaziguamento para a existência ordinária, mas cruel (do ponto de vista do portador, por mais babaca que possa parecer a outro espectador)?

Quem não conhece um(a) tio(a), um(a) vizinho(a) que se entope de "benzo"? A vida foi pro ralo no mês passado, mas a pessoa continua lá, tranquila, sob controle... Nada melhor que uma nação calma, tranquila e centrada (ainda que o centro esteja em outra dimensão!!!)?

A vida de quem toma pode ir pro buraco, de quem está em volta também, mas a curto prazo, está tudo no lugar (tá, talvez eu esteja sendo "ciclotímica" e "dramática", mas, convenhamos...)... "Nação rivotril" é um nome "carinhoso" para um sintoma igualmente "fofo"... Afinal de contas, temos que fazer juz à nossa famosa índole pacífica, hospitaleira e apaziguadora... Cada um elege aquilo que melhor lhe retrata... (inclusive com relação a sua toxicomania).

Tetro



Dentre minhas últimas incursões cinéfilas, está "Tetro", obra de Francis Ford Coppola... (antes de prosseguir, saiba que este texto revela trechos do filme!).

Filme excelente, filmagem e fotografias magistrais... jogos de luzes e cores dão uma ambientação inversa e de perspectiva interessante... Coppola novamente mergulha nos laços parentais e na força das personalidades parentais .. que ganham destaque nesta obra que mistura suspense, drama e reviravoltas (quase) inesperadas...

Aos familiarizados ao universo "psi" ou às leituras psicanalíticas, há um convite tentador nesta película... com muito material a ser explorado, discutido e "recortado" por tal viés... 

O filme desenrola-se quase que atemporalmente em Buenos Aires... num ambiente ambivalente, entre a expressão cultural da "latinidade" e um certo "soturnismo" (Tetro/Tétrico) ... 

Num cenário quase pacato (oposto a Buenos Aires densa e sombria protagonizada por Ricardo Darín em "Abutres"), o "irmão" (Bennie - Alden Ehrenreich) re-surge na vida do escritor Ângelo Tetroccini (Vincent Gallo), e traz consigo todo o tormento, outrora recalcado, negado e esquecido... Cuja atuação fantástica e temperamental (ou seria ciclotímica :D ?) de Gallo nos transporta a um universo conflituoso e paradoxal... 

Ângelo, já não responde mais como "Ângelo", mas apenas por uma cifra do sobrenome potente do Grande Maestro Carlos Tetroccini (que dá o título ao filme)...  a figura paterna eleva-se e revela, aos poucos, sua marca, e as cicatrizes profundas e aterradoras deixadas ao longo de gerações... Coppola exacerba e joga luz sobre relações silenciosas, conflituosas e para lá de edipianas (com todos os percalços inerentes...)...

Carlos Tetroccini não é apenas um nome opressor... é também fala e marca imposta disto, reafirmada com dizeres como "nesta família só há lugar para um gênio”, algo que castra, limita e sufoca ("bloqueia criativamente")... porém, Ângelo opta por ser "Tetro", não "Ângelo" ou "Tetrocini". Eis uma tentativa de legitimar a própria marca e desejo...

Paralelos orquestrados e metafóricos são conduzidos junto à sombria  peça de Arthur Saint-Léon, Coppélia (inspirado em conto de E. T. Hoffmann) que ilustra e intercala-se com outras produções e óperas dando tom poético e dramático às passagens densas e intensas das disputas amorosas entre pai e filho, arrebatando e dilacerando as mulheres desta intrigante narrativa...

Tetro é fascinante, complexo, cativante e forte... talvez todos nós tenhamos, assim como (em) Tetro, nos haver com nossos fantasmas para finalmente libertarnos...

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Inaugural?!

Quando se vive 'em' e 'de' oscilações constantes, porém ordinárias, não temos aquilo que parece acometer os espíritos geniais: rompantes de inspiração suada e acalorada... mas apenas gotejamentos sôfregos... salvo quando impulsionados por um momento "hipomaníaco"... ou de "in-sight"...

Após o blabláblá inicial para quebrar o gelo e um pouco de vodka/whisky/birita (hehehe), quem sabe as letras não fluam? ou algumas idéias se percam entre aqui e aí na tela e produzam algum texto?

A idéia surgiu por sugestão despretensiosa de um amigo com o qual não falava há muito tempo... afinal de contas, desconfio que perdi boa parte de meu córtex cerebral em meio às ondas de estresse da vida... e para não perder completamente as impressões de meu eterno e ávido consumo cultural, resolvi registrar algumas delas neste veículo virtual (já perdi inúmeras anotações que fizera em arquivos pessoais, que a cada "backup" ou "upgrade" de computador ficavam de fora ou perdidos em meio a disquetes-CDs-DVDs-HDs-etc...).

Inicialmente, a idéia é manter este espaço como uma "memória auxiliar"... portanto, está longe de ser qualquer apologia a isso ou aquilo... e, se alguém se sentir ofendido, desrespeitado, ou em total desacordo, sinto muito... é um espaço bem egoísta e sujeito a gentilezas ácidas... quem sabe o tempo não muda este azedume do "transtorno do humor"?