domingo, 11 de março de 2012

Oscilações... diagnósticos psiquiátricos, prescrição de psicofármacos...

Em tempos oscilatórios, as produções escritas também ficam prejudicadas...

Altos e baixos, fim de ano, resoluções, etc, etc... 

Novidades, velh-idades, entre tantas outras coisas... 

Que a memória resiste em armazenar e dificultam a concatenação numa forma mais textual (principalmente, com o misterioso fator "tempo"... que os nossos diversos instrumentos hipermodernos supõe "otimizar")...

De qualquer forma, a pretensão é voltar à ativa, em breve... enquanto isso não ocorre, segue abaixo, um pequeno extrato de uma opinião "exarada" no contexto de uma discussão em redes sociais... o tema era uma derivação de "estaria o psicólogo apto a medicar? quais seriam os profissionais aptos a fazê-lo? as medicações são escolhidas de forma arbitrária?"... (depois... quem sabe um dia... consiga formatá-lo para o formato do blog...).



Qual(is) o(s) profissional(is) habilitado(s) para a prescrição de psicofármaco(s)?


A nosologia e a diagnose em psiquiatria (ou mesmo em qualquer vertente ligada ao comportamento humano) são bastante controversas e ultrapassam os limites do meramente biológico... Isto é, uma ocorrência ortopédica é muito mais simples de se constatar através de metodologias quantitativas e diretas do que um levantamento "psi", pois como já apontado pelos demais, não existem ainda exames efetivos para "screening" e diferenciação das diversas "patologias" do
comportamento...

Aliás, isso vai além, pois pressupõe uma construção do que chamamos de "doença mental" (em diversas sociedades determinados tipos de comportamentos são inaceitáveis e dignos de "internação", enquanto em outras, pode ser até mesmo sinal de "status")... mostra desta dificuldade são as diversas revisões dos manuais psiquiátricos... que não chegam a ter um "corpus" teórico coeso... baseando-se em estatísticas e distribuições nem sempre consistentes. 

E muitas das diretivas de tratamentos são derivados de tais classificações (quer
dizer, na presença de x sintomas em y, o diagnóstico é ZZZZ...a partir disso, lança-se mão, prosseguindo-se no "guideline" psicofarmacológico, que também não deixa de ser uma espécie de "chave de classificação" de "resposta e não resposta" a determinada intervenção farmacológica).

Num primeiro plano, parece ser simples, colhe-se a história clínica, fatos relevantes, sintomatologia pregressa e atual... lança-se nas listas de classificações... percorre-se o "guideline" para a escolha da melhor medicação e eventuais combinações, a depender da resposta do paciente... (uma "reflexão" reduzida e sintética sobre os neurotransmissores envolvidos e qual a melhor estratégia para o seu reequilíbrio... vivemos hoje, a era da psiquiatria molecular... há algumas décadas, pensava-se em nível enzimático).

Com relação à formação do profissional habilitado para a prescrição de psicofármacos, deve-se estar atento ao fato de que a "colheita" da história clínica e sua interpretação tem um fator subjetivo importantíssimo... o "feeling" do profissional faz toda a diferença para fins diagnósticos, com alteração significativa da conduta... Atualmente, qualquer profissional médico sente-se habilitado a receitar um "antidepressivozinho"... Sem no entanto, observar a adequação (um tricíclico mal-utilizado pode desencadear quadros disfóricos e ciclagem rápida, por exemplo) ou mesmo a exclusão de outras causas orgânicas
compatíveis ou geradoras de quadros psiquiátricos.

Infelizmente, esse tipo de abordagem e/ou reflexão, que eu chamaria de temerária, não é restrita aos "médicos não-psiquiatras" ou "privilégio" de psicoterapeutas-psicanalistas-leigos na esfera da "organicidade"... há um tempo atrás foi publicada uma matéria em revista de grande circulação, apontando tal problemática... a não avaliação prévia de condições orgânicas que deflagram ou contribuem para quadros "psi"... (gente com problemas metabólicos sérios, tratados continuamente com psicofármacos, com diversas trocas e associações de medicações nada inócuas, sem qualquer efeito). Alertando que os profissionais fossem mais cautelosos em suas avaliações...

Neste sentido, concordo que para prescrever medicações (sejam elas quais forem), deve-se ter uma base mínima do funcionamento corpóreo... entretanto, a minha crítica maior, talvez seja, a não-utilização adequada de tais conhecimentos e da ânsia e do apoderamento de certas áreas do conhecimento por interesses corporativistas e econômicos... e da "desatenção" em relação ao ser humano que ali está. Nem tanto lá, nem tanto aqui... (nem o não-uso de psicofármacos e nem a prescrição indiscriminada como tem ocorrido nas duas últimas décadas).

Creio que um profissional deve ser humilde o suficiente para reconhecer os limites de seus próprios saberes e convocar os demais para uma "guarda compartilhada e ética" visando ao bem-estar do humano que o busca em momento de sofrimento...  

(Assim, o psiquiatra, o psicofarmacologista*** - figura que inexiste no Brasil, recorrem ao cardio-, ao neuro-, ao endócrino-, ao psi-cólogo/canalista para a
realização das devidas pesquisas prévias, e não exclui a atuação conjunta nas diversas interfaces de conhecimento e técnicas...).

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