quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Poema em linha reta - Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

Um dos meus poetas preferidos, para não dizer, talvez "o" preferido...

Apesar do século que nos separa, nunca deixará de ser tão atual, tão assertivo... 

Em tempos hipermodernos nos quais se impõe ao homem comum, o ideal do "bem-sucedido", do "feliz" bem-resolvido... Pessoa, em seu heterônimo mais melancólico, nos dá a correta medida de nossa "fracassabilidade" e da necessidade desta para nos humanizar....



sábado, 6 de agosto de 2011

Potiche (A esposa troféu) - François Ozon


De fato, a tradução é esta mesma... potiche, termo quase pejorativo nesse contexto, algo como dondoca e/ou enfeite para ser visto, só.
Vase potiche, manufacture De Grieksche A, Delft (Pays-Bas), vers 1710 © Les Arts Décoratifs
Mais uma obra do nosso prolífico, versátil e camaleônico diretor François Ozon. Acompanho Ozon desde os anos 90, quando apareceu por aqui, timidamente com o "Gotas d'água sobre pedras escaldantes"... desde então, não parei mais, perdi uma ou outra produção com desalento... (mais por preguiça, confesso, de não ir atrás, afinal de contas, nem tudo estréia nestes tristes trópicos).

A escolha de Catherine Deneuve pareceu cair como uma luva para encarnar a protagonista de nossa história. Em Potiche, Deneuve incorpora a "Madame Pujol"... mulher "submissa" e casada com o "Monsieur Pujol", presidente de uma indústria de guarda-chuvas na Paris dos anos 70. Embora ele tenha recebido a "Michonneau Parapluies" como "dote" por ter desposado a Mademoiselle Michonneau, considera-se o grande CEO da coisa toda e o pilar da família. Conduz a empresa com punho de ferro e tirânicamente.

Nas primeiras cenas, Deneuve, na pele de Suzanne ou "Madame Pujol", percorre saltitante pelos campos, cantarola com os passarinhos, admira a beleza do entorno e anota curtas frases "poéticas" - tudo isso com um certo ar de deboche ("burguesia alienada"). Os cortes das cenas intercalam um humor levíssimo (nada ácido como nas primeiras películas do diretor) que beiram a superficialidade (quase) irritante-provocativa. 

Assim, o filme desliza, mostrando e perspassando por entre os pequenos conflitos diários de um executivo "ocupadíssimo" e "atarefadíssimo" que deve lidar com uma classe trabalhadora cada vez mais insatisfeita... (por hora, o cenário sócio-político da Paris dos anos 70-80 passa ao fundo de forma bastante "discreta") e a hipocrisia ao lidar com sua família... (o clichê do homem provedor, que mantem "tórridas" relações com a secretária - claro, com o recato dos anos 70-80, cuja esposa trata dos afazeres domésticos... como quem não sabe de nada e aceita aquilo tudo como parte do "script" da estrutura familiar corriqueira).

A "situação" trabalhista da fábrica culmina num "rapto" do Monsieur Pujol em protesto e forma de exigir condições laborais mais dignas... entre uma ou outra cena cômica, Madame Pujol é instada a intervir... e solicitar ajuda ao "deputado-prefeito" local... o Monsieur Babin (sindicalista incorporado pelo agora "curvilíneo" Gérard Depardieu). Entre vai-e-vem, Madame Pujol assume a direção da fábrica "Pujol Parapluies"... e surpreendentemente, revela-se muito melhor "presidente" que o seu antecessor (uma decepção confirmada)... 

Aquela que inicialmente havia sido motivo de chalaça coletiva, torna-se ícone e abre precedentes para que as pessoas de seu entorno repensem suas posições... tanto na estrutura familiar quanto social... (seu filho, distante e avesso à qualquer relação com a fábrica vê-se como agente, produtivo e criativo... a filha questiona-se quanto à sua própria condição de "potiche"... entre outras revelações interessantes).

Potiche rendeu prêmios e elogios... A presença marcante de Deneuve combinou com a suavidade militante e firme de "Suzanne nascida Michonneau"... Poder-se-ia (sim, a mesóclise está em desuso... massssss.... permitam-me a liberdade de expressão não-poética) dizer que tal firmeza atendeu até mesmo a força de manter-se na posição de mãe, mulher e agente político. 

Ozon esteve, na última temporada, intrincado na vida política parisiense... e Potiche traz uma pitada desta leitura "crítica" e "provocativa"... das mudanças induzidas pelas classes trabalhadoras, pela reviravolta ocasionada pela "liberação" feminina, entre outros... provocações estas, oferecidas nas cenas de "abertura" do filme. Vale a pena conferir!!!