sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Nação Rivotril


Desde 2009 as discussões sobre a "ascensão" do consumo de benzodiazepínicos, especialmente o "rivotril" (que rende alguns bons trocados à Roche) que ocupa o 2o. lugar do "ranking" nacional, tem tomado espaço na mídia... conferindo ao Brasil o apelido carinhoso de "Nação Rivotril" - (o consumo vai das metrópoles às cidades menores).

Cá entre nós que tal estatística merece correção, pois ela é baseada, em sua ampla escala em dados oficiais, desconsiderando-se o uso no mercado "negro" (por falar em "negro", não me venham com "papinho politicamente correto"), no mundo paralelo do "uso recreativo"...

O dito cujo "benzo" virou panacéia, tanto no mercado oficial quanto no paralelo... no "oficial" serve para atenuar as angústias das mais variadas amplitudes, causas e (des)diagnósticos... é um "baratinho democrático", cabe no bolso de (quase) todos (se não cabe, o SUS providencia) e aplaca igualmente os males dos ricos, pobres, descamisados e insones de plantão.: 

Vai da angústia da mãe que perdeu o filho no tiroteio do traficante da esquina, passando ao executivo que se "estressou" com a secretária que quer que ele assuma a relação para a esposa - que pode apreciá-lo com um  "on the Rocks" de "Green Label"; visita o(a) professor(a) mal-pago(a) da rede pública de ensino que não encontra solução para o impasse na educação, mas que precisa continuar a trabalhar e encara a sala de aula de "frente", graças ao "centramento" conferido pelo "benzo", chegando até a modelo que usa o "benzo" para atenuar a "nóia" das anfetaminas para emagrecer e para aguentar o "tranco" das passarelas e seu ninho de cobras do mundo imagético.

No "paralelo" resolve "bode" de coca, de crack, do ecstasy, do GHB, deixa a "trip" mais "light" e ainda por cima "disfarça" a "nóia"... e daí por diante (sei lá quais são as gírias do momento, tô meio véia)... Embora, nem se precise tanto recorrer ao "paralelo", qualquer um, com um mínimo de articulação verbal, é capaz de "engambelar" um clínico, um psiquiatra, um profissional da saúde e sair com o receituário azul, oficial e totalmente legal... A prescrição é feita no "olhômetro", sem grandes crises... com tranquilidade (des)proporcional ao transtorno para se livrar da dependência química de tal "magia em gotas".

De qualquer forma, quem nunca sonhou com tranquilidade em gotas ou comprimidos? Sossego, paz de espírito e uma calma esperança como se fossem "as gotas de sabedoria"? Um apaziguamento para a existência ordinária, mas cruel (do ponto de vista do portador, por mais babaca que possa parecer a outro espectador)?

Quem não conhece um(a) tio(a), um(a) vizinho(a) que se entope de "benzo"? A vida foi pro ralo no mês passado, mas a pessoa continua lá, tranquila, sob controle... Nada melhor que uma nação calma, tranquila e centrada (ainda que o centro esteja em outra dimensão!!!)?

A vida de quem toma pode ir pro buraco, de quem está em volta também, mas a curto prazo, está tudo no lugar (tá, talvez eu esteja sendo "ciclotímica" e "dramática", mas, convenhamos...)... "Nação rivotril" é um nome "carinhoso" para um sintoma igualmente "fofo"... Afinal de contas, temos que fazer juz à nossa famosa índole pacífica, hospitaleira e apaziguadora... Cada um elege aquilo que melhor lhe retrata... (inclusive com relação a sua toxicomania).

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